A gente vimos: O Espetacular Homem-Aranha 2, por Algures (COM SPOILERS)

Foi-se o tempo em que ter grandes atores num filme de super-herói era algum indicativo de sua credibilidade e qualidade, e a continuação do Amazing Homem-Aranha é a maior prova disso. Embora conte com grandes e bons atores (como Sally Field e Jamie Foxx, entre outros), o Espetacular Homem-Aranha tenta fazer um monte, e consegue muito pouco.

Já é bom começar avisando a quem for no cinema: O Espetacular Homem-Aranha 2 é um filme infantil: não no sentido de xingamento, mas de público-alvo mesmo. O que não é nenhum demérito, afinal todas as animações da Pixar têm como alvo “o público infantil”, e nem por isso são ruins, pelo contrário. O problema é que, na ânsia de fazer um filme para vender bonequinhos, a Sony esqueceu que existe um limite entre filme para crianças, e filme infantiloide. Ou o filme é um herdeiro da ideia pós-moderna do Lyotard, e eu é que sou um burro de não perceber as referências junguianas.

Para resumir e (tentar) não estender tanto essa resenha, vamos sistematizar as coisas:

 

O enredo:

Peter Parker precisa lidar com sua dupla vida de estudante e suoper-herói, ao mesmo tempo em que precisa se ligar da promessa que fez ao pai da Gwen, antes dele morrer no primeiro filme (e isso não é spoiler, PORRAAAA) para deixar ela de fora de toda essa confusão. Ao mesmo tempo, Harry Osborn, o melhor amigo de Peter que a gente nunca tinha ouvido falar (na realidade desse reboot) volta, a gente descobre que o Norman Osborn tem uma doença que faz dele ficar parecido com um monstro (que conveniente), e o Harry também tem. Correndo por fora ainda temos a origem do Electro, como um nerd tão estereotipado que chega a doer os bagos, e que se transforma no vilão, e o Peter ainda se vendo às voltas com a trama chatíssima do por que seus pais o abandonaram, deixando a Tia Mae putissima da cara (com razão). E tudo isso é só um resumo do filme.

 

Os pontos positivos:

Começando pelas coisas boas, que são poucas. Boa parte do filme vemos o Homem-aranha salvando as pessoas, o que eu acho ótimo. Pra mim, deveria ser o item número 1 do manual não escrito das regras do super-herói: salvar pessoas é a prioridade. É para isso que se vira um Super-Herói em primeiro lugar. Todo o resto vem em segundo plano.

Segundo, temos o Peter Parker como o VERDADEIRO amigão da Vizinhança. Vemos ele conversando de boa com as pessoas, sem se considerar o super-herói bonzão, e sim o cara que é amigão de todo mundo. Nesse filme, ser o “amigão da vizinhança”, realmente faz sentido.

Aliás, acho que pela primeira vez eu vejo o Peter Parker dos quadrinhos fora dele. Não me entendam mal, os filmes do Sam Raimi (conto só o primeiro e o segundo) são excelentes para mim, mas o Peter Parker em si deixa um pouco a desejar em relação à fidelidade com os quadrinhos. Já aqui temos o efeito inverso: Este é o Peter Parker com o qual cresci nos quadrinhos, que conversa com as pessoas, fica fazendo piadinhas sem graça, não para de falar (e que não é um adolescente musculoso como nos filmes do Raimi), se fode pra caralho, e por aí vai. Pena que a história ao redor dele seja tão merda.

Os efeitos especiais são bacaninhas, nada demais. As atuações são muito boas, mas infelizmente a caracterização dos personagens exige pouquíssimo dos atores.

Emma Stone.

 

Os pontos negativos:

A história é um verdadeiro franskenstein. Imagina um monte de tramas e subtramas costuradas mal e porcamente apenas para garantir cenas de ação e momentos impactantes. É mais ou menos isso. Temos uma série de subtramas que não chegam a lugar nenhum ou, quando chegam, você se pergunta: “Tá, e aí? O que isso tem a ver com todo o resto?”, não há um verdadeiro “arco” que você possa se apoiar para ser levado pela trama: é uma verdadeira teia (trocadilho não intencional) de histórias desconexas que só tem em comum o fato de acontecerem com pessoas com quem o Aranha está relacionado em algum nível.

Os personagens são mais do que estereotipados; eles são caricaturas. De um Electro estilo Mr Freeze em Batman & Robin a um Harry Osborn que é uma caricatura emocional do mesmo personagem quando interpretado pelo James Franco na trilogia anterior, passando por personagens menores como um cientista “maligno” com sotaque alemão e cara de mal, a impressão que você tem durante a maior parte do filme é que está vendo uma paródia do desenho animado dos anos 90.

O que não seria, necessariamente, um problema, se a) esta fosse, de fato, a proposta do filme; e b) O filme não desse uma guinada BIZARRÍSSIMA no último ato. Durante 90% da história, nós temos um filme leve, divertido, com alguns momentos dramáticos, mas nada demais, onde temos o Peter lidando com as Peterzices de sempre, e a origem do Electro, que de um fã do Homem-Aranha, passa a odiá-lo sem um motivo realmente justificável. Mas enfim, temos o Electro como vilão principal, tudo muito bom, tudo muito bem, ele enfrenta o Aranha, é derrotado, mocinhos venceem, yeayyy. Aí o Harry, cujo arco narrativo só serviu para justificar esse último ato, aparece como Duende Verde, rapta a Gwen, luta com o Aranha, e acaba causando a morte dela.

Aliás, quem acaba causando a morte dela, no fim, é o Aranha, num eco com a história original dos quadrinhos, que foi sendo suavizada com o tempo. E a cena da morte dela é bem crua, em certo aspecto. Totalmente desconexo com todo o clima do filme até ali.

Aí você pensa: “Bem, de repente a ideia foi essa: fazer um filme leve, depois levar a galera para a tragédia, dando mais impacto, e a partir do terceiro filme veríamos as consequências disso na vida do Aranha, num filme com ele mais velho e mais calejado da vida”. Mas não. 5 minutos depois, passaram-se 5 meses, e não demora nada pro Peter, que tinha deixado de ser Homem-Aranha nesse meio tempo (meio tempo que não foi mostrado no filme), voltar a ser o velho amigão da vizinhança de sempre. E é isso. Fim.

 

Pra mim, nem as cenas de ação compensaram. Muito slowmotion e uma energia elétrica que parecia mais um fluído do que um fluxo de elétrons. Mas aí já é minha chatice falando mais alto.

Enfim, não vou dizer que não me diverti nada com o filme. Até mais ou menos a metade, estava me divertindo bem, curtindo o clima descompromissado, por que tava meio que comprando essa ideia de o filme ser uma espécie de autoparódia. Mas conforme a história vai se desenrolando, vai ficando cada vez mais difícil manter o cérebro desligado.

Eu já disse mais de uma vez aqui que considero um filme “bom”, quando, depois de assisti-lo, percebo que não teve nada que tenha em incomodado, mesmo que eu tenha percebido uma ou outra coisa que tenha achado nada a ver. Todos os filmes têm suas falhas, ainda mais blockbusters, que possuem diversas “regras” a serem seguidas na cartilha do blockbuster. Mas quando eu assisto um filme e não consigo ser “enganado” pelo espetáculo, aí para mim é uma má notícia. Como também aconteceu com TDKR (RRRRRRRRATINHO-OOOOOOO)

Nota: 5.1

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