A gente vimos: Dr. Estranho, por Poderoso Porco

Um tio de bigodão vestindo uma roupa de cafetão a la clipe do Snoop Dogg capaz de fazer uns melibekã-katabanda místico para enfrentar o mal. Fala sério: uma ideia dessas tem como dar errado?

Tem. Pra caralho. Ôxe, como tem!

Então, antes de mais nada é preciso dar parabéns à Marvel Studios por ter conseguido escapar de toda a merda possível de rolar no longa-metragem do Dr. Estranho. Nesse sentido, entregar um filme “ok” quando poderiam entregar um episódio perdido de Caça-Talentos com a Angélica já é um feito e tanto.

E é isso: Dr. Estranho é um filme ok. Não chega nem perto dos grandes do estúdio, como o segundo do Capitas, sequer dos médios-pesados, como o primeiro HdF, mas também não se aproxima dos ruins (pra mim, A Era de Ultron). Na verdade, Dr. Estranho já surge com assento garantido do lado da “zona cinza” – tipo os filmes do Thor, que não são nem legais nem ruins, são só filmes da Marvel.

Essa “zona cinza” pode ser algo bom ou algo muito ruim dependendo do que se enfoca: se a gente pensa no potencial de dar merda do personagem e seu universo, como eu disse, ou se uma tentativa de sair da zona cinza te leva a fazer um Esquadrão Suicida ou BvS, ficar nela é lucro. Agora, se a gente pensa por exemplo que Dr. Estranho tinha, de partida, o elenco mais barra-pesada de um filme solo da Marvel… aí fo-deu.

Mas vamos concentrar primeiro no copo meio cheio: visualmente, Dr. Estranho é um desbunde. As distorções de cenário (coisa que a gente tinha visto em Inception) aqui são elevadas à enésima potência, e é sensacional a sacada de fazer do cenário (e não somente dos elementos de cena) parte ativa nas lutas, por exemplo. Visualmente é legal também a solução que encontraram para o uniforme, excluindo sem maiores problemas a calça de bailarina.

Outra coisa muito legal é o próprio efeito das magias. Nos trailerezes e nas centenas de gifs que fizeram, a impressão que dava é que tudo seria MUITO galhofa, numa vibe meio Bruxa Galáctica Kilza e tal. Ao cortarem completamente o caráter verbal das magias (diferente da Tempestade do desenho dos anos 90) a coisa ficou muito mais interessante.

Outro ponto legal é como as cores, como as viagens inter-universos tem um ar meio que de lisergia pós-hippie e ainda conseguem remeter ao trabalho do Steve Ditko. Ainda nas adaptações, é impressionante como Dormammu consegue ser bastante diferente da sua versão dos quadrinhos e, mesmo assim, bastante parecido. Me surpreendeu demais!

Porém, no  que diz respeito ao copo meio vazio… Acho que Dr. Estranho sofre de dois problemas. O primeiro deles é que a “fórmula Marvel” está aqui elevada às chamas infinitas de Faltini: Lembra o primeiro Capitão América, uma pegada de aventura lavada com água demais. Tudo acontece rápido demais, óbvio demais: nem dá pra dizer que o filme é previsível, porque ele deixa claro que não quer te esconder (nem surpreender) em nada. Cara, e as piadas, hein? Como são ruins!

Entretanto, o principal problema do filme pra mim é a completa falta de consistência interna. Com grande parte da ação do filme se desenrolando no Nepal, é medonho que a imensa maioria do elenco seja composta por ocidentais. É impressionante como, situado no meio do continente asiático, o mosteiro praticamente tenha apenas dois orientais (Wong e o Mestre Hamir), e os demais sejam todos ocidentais. Kaecilius e seus acólitos, a Anciã, Mordo, o bibliotecário assassinado, os alunos treinando antes da cena do Everest, os caras que lutam enquanto a Anciã observa… Tudo ocidental. Ok, tem toda a história de não querer ferir suscetibilidades políticas no mercado chinês (fundamental para a arrecadação de qualquer filme hoje em dia) mas a coisa foi meio forçada. Podiam ter colocado uns asiáticos a mais que faria mais sentido (até o trio de assaltantes que tentar roubar o doutor NO MEIO DA RUA NO NEPAL é composto por ocidentais!).

Ainda no lance da consistência interna, é medonho como algumas coisas são esquecidas conforme a necessidade: o mesmo manto de levitação cheio de vontade própria e que tem o cuidado de enxugar s lágrimas do Dr. Estranho, vira só um paninho quando o personagem é lançado de um lado para outro no ar ao enfrentar Kaecilius e seus parças (a mesma coisa as botinhas do Mordo). O médico que perdeu tudo, exceto um relógio de estimação, ainda tem seu computador pra acessar a internet e tentar mandar um e-mail de desculpas…

No fim, a pergunta que se faz é: Dr. Estranho é um filme foda? Não. É um filme ruim, então? Também não. É frustrante ou atende às expectativas? Isso é você quem decide.

Nota: 5/10

 

 

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