Nunca escondi de ninguém meu apreço por “Os Caça-Fantasmas”. Lado a lado com filmes (pra mim) clássicos dos anos 1980 (De Volta para o Futuro, Goonies, Um príncipe em Nova York, Um Tira da Pesada e tantos outros) foram, como se diz por aí, “definidores do meu caráter”.
Falando sério, são filmes que compõem a memória afetiva da minha infância, de modo que tenho por eles muito carinho.
Quando um novo filme da franquia foi anunciado, fiquei empolgadíssimo. A animação murchou com a resistência do Bill Murray. A animação praticamente morreu quando Harold Ramis, o eterno Egon Spengler, passou para o outro lado do mistério. Por razões Políticas, minha animação ganhou sobrevida quando anunciaram um elenco exclusivamente feminino, e miou novamente quando o trailer me fez sentir que o filme nada mais seria do que uma repetição preguiçosa do primeiro longa.
Aí o filme estreou e pintaram os haters. Na maior expressão, a figura do “estão destruindo a minha infância”. De repente, um tweet da Laura Buu começou a pipocar na minha timeline:
E sim. Isso mudou toda uma concepção que eu tinha sobre o filme: eu tenho duas sobrinhas, uma delas tem 8 anos. O que ela acharia do filme? Será que o novo Caça-Fantasmas seria capaz de gerar nela o mesmo efeito que gerou em mim quando tinha idade parecida?
Empenhado nessa hipótese, resgatei a Poderosinha Leitoa e fomos ao cinema.
E bem… ela adorou! Se assustou quando era para se assustar, riu com algumas piadas, se empolgou com a amalucada Jillian Holtzman (Kate McKinnon), e até sacou que tinha algumas coisas que ela não entendia quando os atores originais surgiam na tela.
Como eu não tenho filhos, talvez essa seja uma novidade que o Ultra e o Triplo (que tem crianças maiorzinhas) já tenham experimentado, mas que foi nova para mim: (re)descobrir algo pelos olhos de outra pessoa. Essa é uma experiência legal demais, marcante demais. Só ela já é digna do filme ganhar uma nota positivamente alta. E ganha.
Isso quer dizer que não há problemas no filme? Não, não quer. Há coisas que me incomodaram, mas acho que são decorrentes principalmente do meu envelhecimento. O volume (e o exagero) de piadas me incomodou um pouco – Kevin, o personagem de Chris Hemsworth, é irritante, sem brilho e sem graça. As cenas de ação têm uma dinâmica que os filmes originais nunca tiveram, não era o ritmo da época aquelas lutas em planos laterais, mas os tempos mudam. A nova versão da canção tema não empolga, não cola, não tem o impacto do arranjo original, é preciso estar com os ouvidos atentos para percebê-la.
Ao mesmo tempo, o filme tem ganhos que o original não tinha. Apesar do absurdo, tem um pé no chão todo novo: As novas Caça-Fantasmas, três delas pesquisadoras desempregadas, têm mais dificuldade em conseguir recursos do que no original, no qual as coisas simplesmente aconteciam. O papel do incrédulo (que o nos originais era de Peter Venkman/Bill Murray) perde a característica de cínico caça-fama e ganha ares de neurose woodyalleniana com Erin Gilbert/Kristen Wiig. E a covardemente atacada Leslie Jones dá à sua Patty Tolan uma afetividade que o Winston Zeddemore de Ernie Hudson nunca teve. Em paralelo a isso tudo, as participações de (quase) todo o elenco original (a única exceção é o recluso Rick Moranis) são uma diversão a parte: particularmente tocante é a (rápida) homenagem a Harold Ramis.
Enfim, Caça-Fantasmas é um filme tão bom quanto o original, porque consegue ter o mesmo efeito: uma menininha de 8 anos de idade saiu do cinema querendo ver mais, conhecer mais daquele quarteto. Assim como eu um dia também quis. Lado a lado com isso, o filme ainda fez este velho rabugento aqui se divertir. Se essas coisas não forem o mais importante num filme desse tipo, eu não sei o que pode ser.
Nota: 8,5