Sim senhores, nós lemos um daqueles álbuns de Peanuts que não é Peanuts…
Numa outra vida, num outro século, um homem chamado Cavalo, digo, Charles M. Schulz, criou uma tira em quadrinhos estrelada por crianças, mas que contava com participações esporádicas, e cada vez maiores, de um cachorrinho branco e preto, um beagle.
Isso foi em 1950. Cinquenta anos depois, publicados ininterruptamente, ganhava o mundo a última tira estrelada por aqueles personagens – vítima de um ataque cardíaco, Schulz morrera na véspera da publicação. Tendo virado nome de foguete, desenhos animados, musicais e toda sorte de produtos, naquele momento, naquele dia 13 de fevereiro de 2000, se encerrava uma trajetória gloriosa, de um quadrinista e seus personagens. Puritanos ou não, ali é o fim.
Mas o deus mercado não é um cara legal – ele não curte dar descanso aos mortos. E se a princípio Snoopy e sua turma continuariam vivos na forma de republicações e compilações, a Peanuts Worldwide viu que podia gerar mais, e cedeu a marca à BOOM! Studios editora, para que nossas histórias com Minduim e os seus fossem feitas. A primeira dessas novas HQ’s saiu em março de 2010 (A felicidade é um cobertor quentinho, adaptação de um desenho animado e também publicada por aqui pela Nemo, este ano). A sequência veio em 2012, com o presente Isto é Tóquio, Charlie Brown!, que a Nemo acabou de publicar aqui no Brasil-sil-sil.
Na trama, o time de baseball do Charlie Brown (que é tipo o Íbis do baseball) é convidado pelo presidente dos Estados Unidos a disputar um jogo amistoso, representando o país, no Japão. Consciente da inaptidão do seu time (exceto por aquele rebatedor esquisito, o Snoopy), Minduim convoca Patty Pimentinha e sua parceira Marcy para um up no time. Mas, na terra do sol nascente, as maiores confusões dessa turminha do barulho nem mesmo envolvem o jogo!
Escrita e ilustrada por Charlie Schulz Vicki Scott e com arte final de Charlie Schulz Paige Braddock, Isto é Tóquio, Charlie Brown! emula bem o estilo das famosas animações dos personagens, tanto visual quanto em termos de enredo.
A depressividade de Charlie Brown é atenuada, Snoopy se envolve em situações mais bizarras (tipo uma luta de sumô) e Woodstock participa mais ativamente das trapalhadas do beagle. Contada em páginas e não em tiras, Isto é Tókio, Charlie Brown! é bem pasteurizada, infantilizada. Os acostumados com as tiras originais dos personagens torcerão o nariz: esse álbum parece que o tempo todo não faz mais do que tangenciar o legado de Schulz, sem nunca de fato encarná-lo. Mas aqui talvez esteja a grande sacada do lançamento: Isto é Tóquio, Charlie Brown! é para crianças. Aquelas ali na casa dos seis, sete anos de idade (quanto menores, mais diversão), vão se divertir bastante – pode inclusive ser uma leitura instrutiva, porque trata de aspectos culturais, geográficos e turísticos do Japão. A trama está em função disso, a ida da turma para o Japão é meio sem pé nem cabeça, sua estadia e retorno de lá também. O lance é mostrar Tóquio para a audiência. Lendo uma entrevista dada pelas autoras, fica clara essa intenção: Isto é Tóquio, Charlie Brown! surgiu após uma demanda de um editor japonês, que queria uma HQ mangá style com a turma do Minduim. Sendo uma proposta totalmente indecente, a “graphic novel” em questão foi quase que a resposta – algo como os filmes-cidade do Woody Allen.
Enfim, num resumo, Isto é Tóquio, Charlie Brown! é uma HQ bocó. Bobinha, totalmente esquecível, que ganha uns pontinhos quando você se lembra que é voltada para crianças. Mas mesmo assim ela fica bem abaixo da crítica, porque é uma HQ infantil for dummies, muito mais para Teletubbies e Barney do que para Hora de Aventura ou um Peanuts roots – deixa bem a desejar.
Snoopy – Isto é Tóquio, Charlie Brown!, de Vicki Scott & Paige Braddock (a edição nacional não traz qualquer menção a isso. A autoria é creditada a Charles M. Schulz), editora Nemo. 104 páginas, colorida. R$28,00.
Nota: 4