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A gente lemos: Pobre Marinheiro, de S. A. Harkham

A vida é feita de escolhas. A frase não é minha, tô repetindo de alguém que nem sei quem foi. Talvez Sartre, o cara falava de escolhas.

Enfim, a vida é feita de escolhas.

Comprar ou não um gibi, casar e sossegar ou viver uma vida de doenças venéreas diversão afetiva sem limites. Ir ao teatro ou ao cinema. Comprar uma bicicleta.
Os Paralamas do Sucesso têm uma música sobre nós nos apresentarmos com o que sobrou de nós, o que sobrou das escolhas. A internet atribui ao Luís Fernando Veríssimo um texto chamado “Escolhas”, sobre o mesmo tema (ok, o “internet atribui” é só pra tirar o meu da reta. Mas o texto tá hospedado numa página da Unicamp, então deve ser dele mesmo)

E a Balão Editorial, pra falar de escolhas, traz quadrinhos. E tão bem quanto os outros dois exemplos que citei antes (ainda que mais triste), o faz com perfeição em “Pobre Marinheiro”, de Sammy Harkham. Na história (curtinha curtinha) vemos o casal Rachel e Thomas, que vivem sós numa casinha isolada. A vida deles é simples e aparentemente boa. É então que Jacob, irmão de Thomas, volta, trazendo… escolhas.

Contada com poucos balões, Pobre Marinheiro é uma história triste, levemente baseada no conto “En Mer” de Guy de Maupassant (digo “levemente” não porque eu tenha lido o conto e comparado, mas porque a recomendação na quarta capa assim indica) sobre isso, sobre onde é que as escolhas nos levam. A tristeza, inclusive, é marca da coleção Zug da Balão, descrita dessa forma: “A Coleção Zug apresenta livros sobre a tristeza da derrota e a maneira de cada um superá-la.” E mais, sobre a trama, não se pode dizer – sob o risco de estragar completamente a leitura. Não, não se trata de um enredo surpreendente e cheio de reviravoltas, na verdade, as primeiras páginas já te indicam onde mais ou menos tudo vai terminar. O valor do álbum está em outro lugar. Ou também em outro lugar.

A arte de Harkham é muito bonita. É doce, simples, e os tons de verde ressaltam a melancolia da jornada de Thomas em busca de si mesmo. “Pobre marinheiro”, feita curta, num formato pequenino, é uma HQ emocional, pra bater direto no coração. Mesmo, sem besteira, sem falsa masculinidade exagerada, é uma HQ pra balançar. Daquelas que você termina de ler, levanta a cabeça e fica ali, álbum na mão, fazendo uma lista mental de pessoas que precisam ler aquela história.

E (re)começa a fazer escolhas.

Pobre Marinheiro, de S. A. Harkham. Balão Editorial, 128 páginas, R$26,00.

Nota: 10

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