Como DCnauta desde pequeno, tem sido difícil ler gibis de super-heróis. Se por um lado a DC tem lançado altas coisas que são (na melhor das hipóteses) meia-bomba, a Casa das Ideias tem nos brindado com algumas publicações bem legais. Coisas como Os Novíssimos X-men, Gavião Arqueiro, Demolidor do Mark Waid, Miss Marvel…
Mas o golpe de misericórdia veio na forma deste encadernado do Homem-Formiga. Não, um gibi do Homem-Formiga não pode ser bom. Sem chance. No way baby. É o Homem-Formiga, carái!
Só que o gibi é bom. É sem frescura e diverte. Droga! Se não fossem essas malditas crianças e seu cachorro!
Na trama, o Homem-Formiga mais pé de chinelo da história, Scott Lang, está na pior. Desempregado, na rua da amargura, a ex-mulher criando empecilhos para que ele conviva com a filha, Cassie Lang (que foi a heroína conhecida como Estatura. Aparentemente isso foi apagado inclusive da memória de todo mundo. A menina foi até rejuvenescida. Boiei nessa). Para virar o jogo, ele tenta se empregar com Tony Stark, o Homem de Ferro Superior. Mas como bom fracassado que é, isso também não dá certo e… ele se vê obrigado a mudar-se para Miami e começar vida nova, como dono e proprietário da “Homem-Formiga soluções em segurança”!.
Sabedor do herói de quinta categoria que tem em mãos, Nick Spencer não inventa rodeios ou relevância onde não há: a vida de Scott Lang (que não tira o traje de Homem-Formiga uma vez que seja) é um merda porque ele é um merda. O resultado disso só pode ser cômico, e o roteirista abraça essa verve sem medo de ser feliz. Um herói risível com problemas igualmente risíveis. Isso é o máximo! Não é exagero nenhum dizer que muitas vezes a toada evoca os bons tempos de Liga da Justiça Internacional de Keith Giffen e J. M. DeMatteis.
Inclusive, essa é uma forma de entender a boa fase da Marvel: a Casa das Ideias parece seguir mais ou menos o que a DC fez ali pela década de 1980, isto é, pegar personagens de segundo (ou ainda mais baixo) escalão e entregar para roteiristas talentosos ou pelo menos com algum potencial e deixá-los trabalhar livres. Enquanto a maior de todas fez isso com personagens como Homem-Animal, Patrulha do Destino, Orquídea Negra e outros, a Marvel vem fazendo isso com Homem-Formiga, Cavaleiro da Lua, Miss Marvel, Mulher-Hulk e Gavião Arqueiro (sim, se você presta atenção nos meus posts – duvido – eu já comentei algo parecido, referenciando um texto do Érico Assis). O que é uma decisão bem razoável: faz sentido ferrar-se à 40, 50 anos de publicação? Há onde avançar nesse cenário?
Enfim: se ao invés de serem engessadas pela cronologia as editoras e seus roteiristas usarem as histórias passadas dos personagens como mero backgroud, evocado ou não ao sabor da necessidade da história (como Spencer faz aqui) a coisa tem tudo pra dar muito certo. Isso quer dizer que teremos um gibi inesquecível? Não, Homem-Formiga – Segunda Chance passa longe disso! Pelo contrário, teremos gibis divertidos e só. Reconciliados com sua função de fantasia escapista e nada mais do que isso.
Afinal de contas, é o Homem-Formiga, porra. É só pisar nele!
Homem-Formiga – Segunda Chance, de Nick Spencer (roteiro), Ramon Rosas e Jordan Boyd na arte. 180 páginas, R$24,90. Panini Comics.
Nota: 7