A gente lemos: Chico Bento – Pavor Espaciar, de Gustavo Duarte

Há dois anos, o maior fã no mundo do técnico Tite, Sidney Gusman, causava um rebuliço danado no FIQ anunciando o mais novo (e arrojado, porque não) projeto da Maurício de Sousa Produções: as Graphics MSP. Histórias longas (na casa das 60 páginas ou mais) contando versões pessoais dos personagens da produtora por nomes de peso da HQBr. Pra começar, Danilo Beyruth (Necronauta, Bando de Dois) detonou a boca do balão com Astronauta: Magnetar. Logo em seguida, Vitor e Lu Cafaggi (Valente e Mix Tape, respectivamente), os Cafaggi Brothers, fizeram chorar os corações das crianças dos anos 80 com uma história de amizade e companheirismo em Turma da Mônica: Laços. No penúltimo trabalho da safra, Gustavo Duarte (do fodástico Monstros) lança mão do caipira mais amado do Brasil em Chico Bento: Pavor Espaciar.

Na trama, Chico, seu primo Zé Lelé, meu primo Torresmo e a galinha Giselda estão sozinhos em casa quando terríveis alienígenas os abduzem para sua nave e os submetem a misteriosos e medonhos experimentos!

Pavor Espaciar é um álbum diferente. Diferentes das outras graphics MSP, diferente dos outros trabalhos do Gustavo Duarte. Isso porque, quem já “leu” algo do mais ilustre torcedor do Noroeste de Bauru nos quadrinhos, sabe que seus trabalhos não possuem falas: toda a linguagem das HQ’s é convertida em imagem. Os personagens “dizem” com ações e expressões. Essa expressividade da arte de Gustavo Duarte é um dos seus pontos mais fortes e, confesso, fiquei com o pé atrás quando o Sidão anunciou que Pavor Espaciar teria diálogos. Enfim, a graphic veio e mostrou que meu receio era infundado: os diálogos são, pra mim, o ponto mais forte do álbum! Duarte escreve um caipirês completamente hilário – é impossível não rir de um Chico Bento esbaforido dizendo ter sido “biduzido pelos capeta di otro praneta”! É como diz um amigo meu, o Gustavo substituiu o caipirês do Chico Bento por um caipirês real, da roça mesmo, e isso ficou ducacete (diferente de um certo Chico Moço, mas deixa pra lá)!

 

 

Se os diálogos diferenciam Pavor Espaciar (PE, pra economizar teclado) dos outros trabalhos do Gustavo Duarte, e essa diferenciação é positiva, o mesmo não se pode dizer, infelizmente, se comparamos “PE” às outras graphics, já lançadas. “PE” é um álbum… desencaixado. E isso já começa na contracapa, com o texto assinado por Roger Moreira, do Ultraje a Rigor. Ok, o Ultraje é uma banda foda, embalou minha infância e minha adolescência, e o Roger é uma figura para o Duarte, tanto que fez uma ponta em Monstros. Mas, pombas! Nem  o Roger nem o Ultraje tem nada a ver com o Chico Bento ou a trama. O que é bem diferente das outras Graphics (Amir Klink em Magnetar, uma metáfora sobre a solidão de viver só entre  “o céu e o mar”; e Carlos Saldanha em Laços, com toda a sua pegada cinematográfica, de filmes família). O incômodo segue para a trama em si: Pavor Espaciar é uma história bem legal, mas podia ter saído na revista mensal do Chico. Suas irmãs mais velhas trouxeram novidade, enriqueceram o universo dos respectivos personagens, os aprofundou. Coisa que Pavor… fica devendo.

 

 

No fim, Pavor Espaciar é uma história muito boa? Sim. Divertidíssima e tudo. Mas falta alguma coisa se comparada às graphics que vieram antes, isso falta.

 

Chico Bento: Pavor Espaciar, de Gustavo Duarte (Graphic MSP). Maurício de Sousa Editora/Panini Comics. 80 páginas, R$19,90 (capa cartonada) e R$29,90 (capa dura).

Nota: 6/10

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