Até fevereiro desse ano, eu tinha uma lista mais ou menos definida de jogos da minha vida. Tinha Team Fortress 2, Cave Story, Fire Emblem Awakening, Mass Effect 2… mas o topo sempre se alternava entre três: Chrono Trigger, Final Fantasy VI e Wind Waker. Cada dia tinha um favorito dentre esses, e vida que se seguia.
Até chegar março. Até chegar Breath of the Wild. E, nesses quase dois meses que demoraram para eu finalmente zerá-lo, cheguei a uma conclusão. Ele não é apenas facilmente o melhor Zelda que já joguei, mas o melhor jogo que já joguei na minha vida.
Já estamos em maio, e vocês já devem ter visto várias análises e resenhas sobre esse jogo. Eu pensei em como me diferenciar desse povo, apenas porque eu queria muito escrever sobre Zelda. E acho que a melhor forma é explicar porque eu quero escrever esse texto.
É muito difícil hoje em dia você encontrar um jogo que te solte tanto a mão quanto Bafo do Selvagem. O que é estranho, visto que o último Zelda 3D foi Skyward Sword, responsável pela famosa frase “Caralho, cala a boca, Fi, ME DEIXA JOGAR FILHA DA PUTA”. Agora, você só precisa fazer umas tarefas em uma Hyrule em miniatura antes de poder explorar.
E tudo, e eu repito, tudo em Breath of the Wild é planejado para incentivar a exploração. As recompensas são divididas em quatro categorias: orbes que te deixam aumentar a vida e a stamina para seguir explorando, armas e equipamentos para conseguir chegar nos shrines e pegar mais armas e equipamentos, cocôzinhos dourados que te deixam aumentar o espaço para a categoria anterior, e ingredientes para poder te ajudar em tudo isso. Parecem poucos (e às vezes são), mas todos funcionam para o mesmo propósito: poder andar por aí.
Há ainda outro tipo de recompensa, que são as memórias. Como o jogo é bem aberto, seria difícil criar uma história coesa que validasse qualquer rota que o jogador pudesse tomar, incluindo seguir na cara e na coragem para a dungeon final assim que for possível. Assim, os acontecimentos do jogador se passam 100 anos depois da história principal, e a narrativa é contada através dessas lembranças. É um jeito inteligente de não ficar no caminho do jogador, visto que elas são desbloqueadas ao alcançar lugares específicos do mapa.
Só que nada disso funcionaria se Breath of the Wild não tivesse um mapa cativante que te incentivasse a explorar, e é aí que chegamos ao verdadeiro protagonista do jogo: Hyrule. Não tem uma área igual a outra, não há buraco que não tenha uma recompensa, não há canto em que você não pare para apreciar a vista. Desde o pico gelado de Lanayru até as praias ao sul, passando pelas florestas outonais para os campos esverdeantes. Todos eles tem momentos, e esses momentos que fazem o jogo se tornar muito maior que a soma de suas partes.
Tem a vez que você atravessa uma ponte ao pôr-do-sol e um dragão atravessa o céu sem nenhum aviso ou preparo do que caralhos é aquilo. Ou quando tem que descer um pico atirando em outro dragão, ou quando você descobre que tem que empurrar uma bola de neve para abrir umas portas de pedra misteriosas, ou quando você encontra um shrine atrás de uma cachoeira por causa do reflexo dele na água. São inúmeros momentos, inúmeras sensações, muitas que nunca irei achar, mas que dão uma sensação mágica ao jogo. É uma terra fantástica, onde você consegue identificar cada ponto do mapa através de uma foto, e onde tudo pode acontecer.
E é esse ponto que mais me fascina em Breath of the Wild. Estão acima das dungeons, das shrines, da invasão final ao castelo de Hyrule, de encontrar a Master Sword, de tirar a Master Sword do pedestal. São os pequenos momentos que você tem ao explorar Hyrule, traçando seu próprio mapa, encontrando viajantes, se divertindo em explorar. Às vezes você superestima a recompensa e se sente decepcionado em encontrar mais um cocôzinho dourado, mas aí para por causa da aurora acima ou do pôr-do-sol encobrindo as colinas. Quando você encontra o seu décimo Lynel e acha que já está na hora de enfrentar ele. Quando sobrevoa as terras baixas como um paraquedista, parando no meio para ver o que era aquilo que você viu.
E é isso que faz Breath of the Wild ser tão especial, de me fazer gastar dois meses nele sem encontrar tudo, de me sentir triste ao ver que já tinha visto o mapa inteiro. É a sensação de fascínio, de descoberta, de magia. É sentir curiosidade em cada canto, de querer explorar cada ilha minúscula para acabar encontrando um desafio que parece ter saído do Náufrago. Há defeitos? Claro que há defeitos, mas elas são eclipsados pelas inúmeras qualidades.
Que jogo, amigos.
Que jogo.
NOTA: 10/10