A Profecia foi produzido três anos após O Exorcista, sucesso da época. Diferente da história de Linda Blair, o filme produzido por Richard Donner (que dois anos depois dirigiria um certo Super-Homem) não coloca seres humanos comuns frente a um duelo entre o bem e mal e sim seres humanos comuns frente ao duelo fundamental entre o Deus cristão e o filho do capeta, o anticristo. Falo, mais especificamente, de Damien Thorn, interpretado pelo pequeno Harvey Stephens – que além de uma ponta no obscuro Gauguin the Savage só apareceu novamente no cinema no remake deste filme como “repórter de tablóide 3”- o filho de Robert (Gregory Peck) e Katherine Thorn (Lee Remick).
Tudo se inicia na sala de parto (o livro faz uma introdução antes disto) onde Robert Thorn está sozinho ante uma péssima notícia: o parto de sua mulher gerou um natimorto e ela está inconsciente, devido às dificuldades do parto. Thorn recebe então uma proposta: uma jovem, sem família, acaba de gerar um filho. Porém, ela não resistiu ao parto e morreu. O diplomata poderia adotar aquela criança como se fosse sua e sem ninguém saber (a verdade seria muito mais aterradora).
O filme e o livro são extremamente envolventes. Centrando em Robert Thorn (o livro narra o ponto de vista de outros personagens), a película vai descrevendo como o pai adotivo de Damien Thorn (anos depois a Marvel criaria um personagem conhecido como Daimon Hellstorm, o filho do demônio) vai lentamente descobrindo a verdade sobre sua criança e a conspiração em que foi envolvido para abrir um futuro político para ela.
Primeiro mérito da produção: encontrar um jovem que lembrasse Harvey Stephens. Na verdade, eu mesmo cheguei a pensar que era o moleque crescido anos depois do primeiro filme (Hollywood não teria essa paciência). Jonathan Scott-Taylor conseguir dar a continuidade e maturidade necessária ao seu personagem, um Damien adolescente.
Desta vez, Damien não é protegido pelo assustador cão de guarda do primeiro filme, mas pelos sinistros corvos que cuidam de quem quer que atravesse seu caminho. Porém, Damien não tem a menor idéia de quem seja de fato e não se recorda de como seu pai morreu. Agora, o adolescente de 13 anos, é criado por seu tio Richard Thorn (William Holden, cujo personagem segue um caminho quase idêntico ao do irmão) e é ligado à sua tia e mãe adotiva, Ann (Lee Grant) e ao seu melhor amigo, seu primo Mark (Lucas Donat, que nunca mais trabalhou em qualquer filme conhecido).
Sem dúvida, A Profecia 2 é o segundo melhor filme da série. Apesar de perder o tom de originalidade tão importante no filme anterior, o espectador envolve-se com Damien Thorn e passa a torcer por sua proteção. O ponto de virada em que o personagem se assume como anticristo e não como um humano comum é forte o bastante para convencer o telespectador. A partir dali, o menino Damien dá lugar ao anticristo. (ATENÇÃO SE VOCÊ NÃO LEU CHOSEN NÃO CONTINUE) O filme parece ter sido uma referência clara para a história em quadrinhos Chosen de Mark Millar que copiou descaradamente a cena em que Damien é sabatinado por um professor de história. Mesmo o envolvimento do leitor com o protagonista dos quadrinhos é similar ao que presenciamos com o predestinado Damien Thorn (mas aí são méritos de Millar).
Quando eu vi o segundo filme, fiquei feliz por saber que a história continuaria, como eu queria…Tome cuidado com o que você deseja. Pode acabar acontecendo.
Talvez por isso a escolha do ator Sam Neill. Neill era muito diferente do pequeno Harvey Stephens e do jovem Jonathan Scott-Taylor. Sua interpretação caminhava para um personagem confessadamente demoníaco, o que era previsível graças ao fim do filme anterior. Porém, ter um anticristo puramente maligno tornava o enredo menos empolgante e envolvente – como se envolver com um protagonista que é o maior vilão? Tarefa para uma ótima equipe criativa. Não foi o caso. – Desta vez, Damien é um notável diplomata que tem o caminho aberto para chegar à presidência dos EUA e cumprir a sua fatídica missão.
Apesar de bons momentos a história jamais se empolga, mesmo com a boa atuação de Neill e de momentos que lembravam os filmes anteriores (como os escoteiros. Esses caras de uniforme nunca me enganaram). O final é tão forçado quanto o restante do filme. A mediocridade com que a trilogia terminava parecia não ter equivalente.
Se há alguma coisa que se salve no filme é Asia Vieira, que possui a mesma aura e talento que Stephens no primeiro filme. Infelizmente em uma produção muito pior. Por sorte, sua carreira prosseguiu na série Goosebumps e na produção para a TV The Price. Em A Profecia 4, a pequena York não é uma menininha inocente, mas desde o início má que nem Pica-Pau (espancando um colega de classe e já arranhando a mãe adotiva quando era recém-nascida). O filme repete a mesma história do original, mas de forma corrida e sem nenhum desenvolvimento. Apostando muito mais nos aficcionados pela história do apocalipse do que em sua qualidade. Resumindo: é menos relevante do que American Pie 4.
De qualquer forma, apesar das duas últimas continuações dispensáveis, tanto o filme original quanto sua sequência valem ser assistidos com a mão no coração. A perturbação que causavam há décadas ainda é presente. Será que o anticristo pode estar entre nós como uma criança inocente? Bem que eu sempre desconfiei daquela minha prima…
Compre a caixa com os quatro filmes ou apenas a trilogia original e, para os que confiam em mim, comprem separadamente o primeiro e o segundo filme.
Blogman foi um dos aficcionados pela série…Mas, detestou A Profecia 4…