George Miller é um diretor competente, criou uma das epopeias mais marcantes do mundo nerd lá no final dos anos 70 com Mad Max e praticamente inventou toda essa estética de mundo distópico pós-apocaliptico com Mad Max 2 já nos anos 80…
Mas o cara não era de trabalhar muito, dirigiu poucos filmes nas últimas décadas, e se dedicava mais a filmes mais inocentes (como Babe o Porquinho) e animações infantis (como Happy Feet), quando ele anunciou que depois de anos de luta ele finalmente voltaria a fazer um filme do Mad Max eu confesso que fiquei meio com o pé atrás… Lembrei de Ridley Scott (outro cara foda) que fez um filme bem marromenos quando o seu Prometheus revisitou aquele universo que ele nos apresentou com maestria em Alien o 8º Passageiro…
Mas aí vieram os trailers de Mad Max Estada da Fúria, e eu comecei a me animar, costumava dizer pros meus amigos velhacos que mesmo que o novo filme de Miller fosse uma merda, só a ótima sensação nostálgica de ver ação de verdade acontecendo naqueles pequenos drops do filme (com carros de verdade capotando no meio do deserto e gasolina queimando de verdade e não aparatos de computação gráfica criada por programadores) já me valia a pena.
Aí o filme estreou, e eu resolvi ver, em nome dos bons tempos em que Max Rockatansky patrulhava as estradas da Austrália no seu Ford Falcom GT V8, e vou lhes dizer que não há um fio de cabelo sequer de arrependimento!!!!
Mad Max Estada da Fúria é um filmaço, um filme aliás que há muito não se via nos cinemas e que eu acreditava que nunca mais iria ver… Mas, putaquepariu, George Miller aos 70 anos provou que ainda existe talento e boas intenções no cinema blockbuster de ação hollywoodiano.
O filme começa com uma breve contextualizada nas coisas (como o 2º filme da saga), onde Max narra em off como é o novo mundo, e o que você precisa fazer pra sobreviver nele… você precisa CORRER!!!
E já em menos de 5 minutos de filme caímos no meio de uma cena de perseguição fantástica…
Falando rapidamente sobre o Max de Tom Hardy, ele ao mesmo tempo que é o que menos fala entre todas as encarnações de Mad Max, em contrapartida é o que mais desnuda o personagem, e isso é feito de modo orgânico e SUTIL, com pequenos gestos e trejeitos, lampejos alucinativos (essa palavra existe?) de Max, olhares e poucas palavras.
Max carrega toda a frustração e CULPA por todos os que não conseguiu proteger e salvar nesse novo mundo, uma legião de mortos que o persegue dentro de sua mente corroída pela violência e falta de esperança…
Já a personagem de Charlize Theron, a Imperatriz Furiosa é o contrário disso, uma idealista que mesmo vivendo anos a fio sob as regras doentias de um novo chefe/rei/presidente/messias do novo mundo, tem a ESPERANÇA de dar aos poucos que teve a oportunidade de salvar uma vida melhor e livre.
Os personagens de Hugh Keays-Byrn (o vilão Immortan Joe), Nicholas Hoult (Nux) e as esposas em fuga do vilão acabam por fechar o núcleo econômico mas completamente afinado do elenco.
Elenco esse que é capaz de nos dizer o que é importante sobre cada personagem sem precisar que isso seja explicado com falas, texto ou aquele didatismo nolaniano exagerado, uma aula de sutileza cinematográfica onde uma troca olhar, um passar de arma para o outro ou uma simples caminhada silenciosa pelo deserto já são suficiente para que posamos entender quem é e o que sente o personagem ali mostrado.
O filme é adrenalina pura, uma sequência de ação de 120 minutos com alguns poucos minutos de interlúdio, paz e conversa… mas isso é um luxo inexistente nesse mundo louco e competitivo que mescla política, dominação econômica e fanatismo religioso numa pantomima claramente espelhada no mesmo mundo louco que vivemos hoje.
A ação aliás é o que move o filme, George Miller mostra que o oldschool ainda tem vez usando efeitos digitais como deveriam ser usados, só como arte-final das cenas de ação, ele dá uma aula a esses diretores clipeiros borra botas que estão por aí fazendo filmes em que a ação nos parece tediosa… Miller consegue ordenar o caos das perseguições de um jeito que nada se perde aos nossos olhos naquele balé de aço retorcido e gasolina incandescente, a simplicidade da história tênue e linear da fuga dos pobres inocentes das garras do tirano, ajudados por um pária sem rumo mas que vê ali a razão pra se sentir vivo, lúcido e útil se junta com as ótimas atuações e a direção hábil de George Miller nos trazendo o melhor filme de ação dos últimos sei lá, 10, 15 anos! Quiçá 20 ou 25!!!!
Enfim, vejam Mad Max no cinema, em 3D, Imax, FX, ou seja lá qual seja a forma de otimização de som e imagem da sua cidade, o filme não só merece como PEDE isso…
Nota: 9,7 e #ChupaVelozesEFuriosos