Já tem muito tempo que nosso querido Leo Finocchi fala do Invencível em nossos papos de mesa de bar e nos podcasts. Ele recomenda o gibi pra gente basicamente desde o seu lançamento, lá na metade dos anos 2000, pela Image Comics.
Não sei o porquê, mas ignorei o herói criado por Robert Kirkman por muito tempo… Até que a Amazon anunciou uma adaptação em animação do personagem pelo seu serviço de streaming. Resolvi pegar o primeiro Compendium pra ler e ver como a animação iria transpôr os quadrinhos para a tela da televisão.
Porém, antes de partir pra crítica do desenho animado, deixa eu fazer meus dois centavos sobre o gibi.
Primeiramente, você tem que ler Invencível como uma obra do seu tempo. O gibi saiu em 2003, logo depois da confusão dos anos 90 e pós fase massa veio da Image… E esse também era o segundo trabalho de Robert Kirman nas HQs.
Levando em conta os dois pontos acima, as primeiras histórias do Invencível são sim acima da média, por mais que ainda possuam alguns diálogos ruins e vícios da década de 90 da Image, como a violência exagerada e sangue jorrando aos litros.
Porém, depois de terminar o arco com o Omni-Man espancando o Invencível e indo embora da Terra, meu interesse pelos próximos capítulos caiu vertiginosamente. A série que trazia situações interessantes e personagens bacanas entrava numas histórias muito lugar comum, ao estilo que eu já estava cansado de ler em outros gibis da Marvel e DC. Fui comentar isso com a galera do MdM e muitos fizeram o mesmo.
Enfim, agora vamos à animação.
Em termos técnicos, não há o que reclamar. A animação é muito bem feita, o design dos personagens respeita a arte original do gibi e ainda faz excelentes adaptações, como incluir mais diversidade de raças e suavizar a super sexualização das heroínas do gibi. As cenas de ação são caprichadas no quadro a quadro e estão muito superiores, por exemplo, às animações recentes da DC – alô Piada Mortal, estou falando com você.
No roteiro, muitas mudanças. Digo que 95% delas foram feitas pra melhor. Ordem de histórias foram mudadas, personagens ganharam outras origens, diálogos foram todos reformulados, as situações tensas das HQs ganharam mais peso e, ao mesmo tempo, a série não foge do humor – que tá maravilhoso!
Robert Kirkman não foi só produtor executivo. Ele foi também roteirista de dois episódios – o primeiro e o último. Com isso, a série refletiu o amadurecimento dele como roteirista, em tudo o que foi citado aí em cima.
Invencível é uma aula de adaptação, que respeita a obra original, deixa seu criador ter voz ativa e qe prova sim que mudanças radicais em adaptações podem ser bem-vindas. É uma lição que The Boys e Legado de Júpiter precisam aprender.
De crítica mesmo, só acho que algumas mudanças causam uma certa incongruência na narrativa. Por exemplo, nos gibis o Invencível se chama Invencível porque ele é foda desde o começo, hahahahahaha! Ele passa pela maioria dos adversários sem problema nenhum. Na animação, os roteiristas optaram por abaixar significantemente os poderes do Invencível e do Omni-Man – o que tá tudo bem, apesar de não estar alinhado com o nível de destruição que os dois causam na última batalha.
Mas enfim, como falei, nada que comprometa a série.
Invencível é uma aula de como se adaptar um gibi de super-herói para o áudiovisual: um produto tecnicamente impecável, que respeita a essência da obra original e melhora quase todos os aspectos do gibi.
Nota 9,5