A gente vimos: A Toca

Sacumé, né?
A gente falou mal, criticou antes da estréia e tal, então era (no mínimo) justo ir saber se o trem era mesmo ruim ou não. E se de repentemente tivesse rolado um milagre de natal e Felipe Neto e sua turma tinham conseguido gerar o primeiro clone brasileiro do Monty Python?
Sobrou para este intrépido que vos escreve essa tarefa (mentira, acho que todo mundo acabou vendo), mas só eu fui sádico de escrever sobre…

Se você não sabe do que eu tô falando, A Toca é uma série curta, elaborada e capitaneada pelo vlogger Felipe Neto, contando, de maneira ficcional, os bastidores da sua produtora de vídeos para a internet, a Parafernalha. A série nasceu como uma esquete do canal no Youtubiu, e teve novos episódios produzidos com veiculação exclusiva pelo Netflix Brasil. Após óbvias comparações, a Netflix Br falou que a série não deveria ser comparada com as iniciativas de sua irmã gringa, como House of Cards ou Orange is the new black, que a proposta era diferente e mimimi bóbóbó. Ok.

A esquete do Youtube A Toca, nada mais é do que uma chupetação (mas sem talento) da série gringa The Office (cuja versão estadunidense é estrela por Steve Carell). Assim como The Office, A Toca é um mockumentary: uma série ficcional que usa da linguagem do documentário, dando uma cara de “Tv verdade” para a coisa. Então a câmera é um presença tão importante quanto os outros, uma vez que os demais personagens tem noção e interagem com ela. Até aí, ok.

O problema é que, diferente do The Office americano, à Toca falta talento. Simples assim. Felipe Neto não é, nem passa perto de ser, e talvez nunca venha a ser um Steve Carell. Seus colegas de elenco, nem querendo, nem se esforçando, são atores bons ou inspirados – tampouco demonstram ter, por trás da câmera, um diretor que os inspire. Principalmente se estamos falando de um mockumentary: são forçados demais, artificiais demais em cena, de modo que a “câmera de documentário” vira apenas um detalhe incômodo para o expectador. Duras como são, as interpretações constrangem – parece que você está assistindo a gravação que o aquele seu tio Zuza fez do teatrinho da escola em que você interpretou a árvore. Sobretudo o próprio Felipe Neto: provavelmente o cidadão tomou uma injeção de botox errada na cara, fica aquela coisa de expressões forçadas tipo book de debutante. Uma lástima.

Felipe Neto e sua expressividade de um inhame cru.

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Isso tudo pensando apenas no primeiro episódio, que foi duro de ver até o fim, mas nem de longe tão ruim quanto o segundo, chamado “Politicamente Incorreto”. Eu acho que saquei qual foi a jogada jenial por trás do episódio: “Aí, lek, bora fazer um episódio cheio de esquetes zuando preto, daí a gente coloca o título como ‘politicamente incorreto’ e fala que na verdade é uma crítica ao preconceito?”. O problema é que o episódio não consegue a transgressão necessária à conscientização, e parece uma criança que chama a outra de cara-de-melão e desmente quando a mamãe chega. Uma coisa mole, sem raça (trocadilho intencional), sem força. São só uns meninos bobos falando bobagens. Depois disso, eu nem sequer cogitei ver  terceiro episódio.

Já que falei das esquetes, elas valem o troféu Mandrake de Ouro para Felipe Neto e sua turminha do barulho. “A Toca”, versão Youtube, tem episódios de aproximadamente 8min. Sua versão no Netflix tomou o raio do Gyodai e tem o triplo (estou pelado agora) do tamanho, 24min. Mas, mas, MAS… lembra aquele dilema do queijo suíço (quanto mais queijo mais buraco, logo, quanto mais queijo menos queijo)? Então. Para aumentar a toca (ui!) Felipe Neto inseriu várias outras esquetezinhas nada a ver no meio de cada episódio! Ou sejE: provavelmente, se tirarmos essas esquetezinhas bobocas, o tempo mostrando “os bastidores da grande Parafernalha” segue sendo os mesmos 8min do Youtube. O que é bom, porque eles definitivamente não têm gás pra mais do que isso mesmo…

Enfim, queira a comparação ou não, o material “produzido com exclusividade” para o Netflix Brasil começa com os dois pés esquerdos. E eu fico me perguntando: sério que algum gestor de conteúdo do portal, que tem acesso a séries de qualidade como eles têm no acervo, achou essa porqueira legal, divertida ou minimamente mórbida para sustentar a audiência? Não posso crer…

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