[A gente lemos] Quadros, do Mike Deodato

Porque você conhece o Mike Deodato. O quadrinista paraibano que estourou para o mundo na década de noventa, desenhando a Mulher-Maravilha na DC. Que depois assumiu a Elektra, o Hulk e o Thor na editora concorrente ainda naquela época, e que uns anos depois estourou de novo, reinventado, desenhando os Vingadores Sobrinhos.

Mike Deodato, o filho do Deodato Borges.

Mike Deodato, um dos maiores sucessos da primeira geração de desenhistas brasileiros a se aventurar lá fora.

Mike Deodato, o único dessa mesma geração que não tinha um trabalho autoral.

Agora tem.

Lançado no FestComix pela Editora Mino, Quadros na verdade deveria se chamar “Batendo papo com Mike Deodato enquanto ele desenha”, porque é basicamente isso que o álbum é. São quatorze histórias curtas (umas curtíssimas, como Círculo Vicioso, outras nem HQ, como Timidez é um grito que não sai), sobre os mais variados temas – sobre o sentido da vida, sobre vingança, sobre sexo, sobre o uso de drogas, sobre a morte, sobre bravura – nos mais variados estilos. Nesse álbum, Deodato e a Mino conseguiram gerar uma sensação que eu nunca tinha tido numa HQ: a de que eu estou num bar com o autor, batendo papo sobre tudo o que se bate papo num boteco, entremeando a prosa, aqui e ali, com um “causo” mais ilustrativo do assunto.

Essa sensação é conseguida com os textos do próprio Deodato que antecedem cada uma das histórias, uma pequena apresentação que muito pouco apresenta da trama que virá: apresenta mesmo é o sujeito por trás da história. Engraçado que sendo um desenhista tão competente, Quadros deixa claro o que ninguém pensou: Deodato talvez quisesse muito falar! Nem tanto no que tange aos roteiros, mas da vida mesmo. Da paternidade, da presença-ausente do pai, Deodato Borges (que faleceu ano passado e a quem o álbum é dedicado), do assombro com a vida e com as escolhas das pessoas. O que o Deodato Jr. faz é compartilhar, em prosa, poesia e quadrinhos, um monte de coisa sobre a vida. E nisso reside essa sensação clara de que ele está ali, do seu lado numa conversa franca e íntima. Não conheço pessoalmente o Deodato, mas o Résdney e outros chégas que o conhecem sempre dizem que o cabra é gente boa demais da conta. Depois de Quadros, sinto que eu também posso dizer isso dele!

Quanto ao trabalho da Mino, acho que eu tenho pouco a dizer que já não tenha dito: está primoroso. O álbum possui uma luva em acetato que o valoriza muito, deixando as artes das capas sem quaisquer logotipos ou títulos impressos em si. Duas histórias vêem em pôsterezes, a já citada Círculo Vicioso (num pôster horizontal) e Ponto Final, num inusitado (e complicado) pôster vertical. Complicado porque (e esse talvez seja o único defeito da publicação), é difícil abri-lo sem rasgar. Eu tinha conseguido, aí fui mexer pra escrever essa resenha e… deu uma rasgadinha. Maldito MdM!

Ah, pra quem reclamou do papel de Lavagem (Jones Kast, nosso sommelier de papel, eu escolho você!), Quadros vem no reluzente papel couchê e todo coloridão. Definitivamente, um material pra se ter da coleção, seja você fã ou não (!) do Deodato!

 

Quadros, de Mike Deodato Jr. Editora Mino, 80 páginas, R$58,00.

 

Nota: 8,5

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