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A gente lemos: Máscaras

Heróis dos pulps como Zorro, o Aranha, do rádio como o Sombra, Besouro Verde & Kato, dos primeiros anos dos quadrinhos, como a Miss Fury, Terror Negro ou Lama Verde… qual a chance da união de todos esses personagens, numa saga em quadrinhos contemporânea, idealizada e com seu primeiro número desenhado por Alex Ross dar errado?

Quase nenhuma, né? Pois é. Mas vem comigo que eu vou te falar desse encadernado da Mythos, que pode ser considerado “o boneco do Jaspion” do Poderoso Porco.

O ano é 1938. O palco, Nova Iorque. Na era dos clubes elegantes da elite e dos grandes mafiosos, o Partido da Justiça chega ao poder – na cidade e no estado, marchando rumo ao governo federal. Entretanto, diferente do que seu nome supõe, seu objetivo é instaurar, com a força bruta de sua polícia de assalto formada por ex-criminosos, um regime ditatorial fascista no paraíso da democracia!

Cara, por onde começar? Primeiro, por dizer que eu me amarro pra cacete nesses personagens aventureiros/vigilantes encapuzados ali dos anos 1930/40. O Sombra então, que inspirou do Batman ao Questão, é um dos meus personagens favoritos.  Quando a gringa Dynamite começou a remexer no bau desses personagens, vi com bons olhos e muita vontade: primeiro por ressuscitar personagens que eu curto bastante e segundo porque, sendo algo fora das majors, poderia ser feito com mais inventividade e liberdade criativa.

Mas o tempo passou e eu esqueci dessa parada.

Aí veio a Mythos e começou a publicar esses trampos. Primeiro, com o gibi do Sombra, escrito pelo Garth Ennis e que, se não chega a ser o melhor gibi de todos os tempos da última semana, ainda era bom e com um preço relativamente em conta. Daí, no ano seguinte a editora lançou o compilado do Aranha (O terror da Rainha Zumbi), com um preço já não tão legal e o pior, com gente falando mal a rodo.

Este ano foi a vez de Máscaras, o crossover juntando, além do Aranha e do Sombra, Besouro Verde, Terror Negro, Zorro, Morcego Negro, Lama Verde, Miss Fury (a primeira aventureira escrita e desenhada por uma mulher). O preço galopou: em O Fogo da Criação, encadernado do Sombra, foram R$39,90 por 200 páginas. Em O terror da rainha Zumbi, R$49,90 por 172 páginas. Em Máscaras (segurem as suas carteiras!) R$79,90 por 264 páginas. Eu sei. Coisa de louco. Ou burro. Ou verme. Ou tudo isso. Tipo eu.

O encadernado reúne os oito primeiros números da minissérie, que estabelece o universo do crossover, mais uma carvalhada de “material bônus” com a única finalidade de encher linguiça – sério, um terço do álbum praticamente é composto por “extras”: roteiros, esboços, artes avulsas, capas variantes (e mesmo com um buzilhão de capas variantes, a Mythos teve a capacidade sobre-humana de escolher a PIOR DELAS pra ilustrar o álbum. Impressionate!)… Uma grande falta de vergonha. O que reflete muito bem a minissérie em si, porque o que Chris Roberson chama de “roteiro” é uma falta de vergonha.

No primeiro número, desenhado por Alex Ross, vemos o Sombra, Besouro Verde & Kato, bem como o Aranha se unindo forçosa e e de maneira forçada diante da situação caótica que se instalou sobre Nova Iorque. Nos números seguintes, Dennis Calero assume a arte, e a coisa só piora: seu traço é péssimo, sua narrativa e layouts de página são vergonhosos, o uso daqueles degradês de Corel nas cores é constrangedor e, se não bastasse, sua arte ainda sofre problemas graves de continuidade e, assim, casa perfeitamente com o roteiro, que se limita a pular de cena de ação em cena de ação, criando situações esdrúxulas na correria (tive vontade de rasgar o gibi quando um desenhista injustiçado automaticamente se transforma num espadachim habilidoso e seu amigo, o promotor de justiça que acabou de ficar cego, consegue montar uma fantasia e imediatamente sair saltitando em prédios por aí e dando sopapos com maestria maior que do Mike Tyson).  É impressionante como ninguém tenha chegado pro Roberson e dito um “chegado, para que tá uma merda!”. A impressão que fica é que ele escreveu um checklist de tudo o que precisava acontecer em cada número e simplesmente passou ao “desenhista”, sem desenvolver nem nada.

Enfim, mas pode ser que apesar de tudo isso, do preço alto e da qualidade vergonhosa, você ainda pense que eu estou exagerando em chamar “Máscaras” da minha versão do boneco do Jaspion do Change. Não estou, e te conto porquê: quando eu estava lendo a HQ, fui ficando com uma sensação merdal de déjà vu. Continuei a leitura. Lá pelas tantas, uma cena particularmente lamentável da trama me fez dar um tapa na testa e lembrar – quando Masks saiu na gringa, eu tive certeza de que nunca chegaria aqui e baixei alguns números em scan. Li, achei uma merda e deletei – do HD e do céLebro. Resultado?

Máscaras, de Chris Roberson (“roteiro”), Alex Ross (capas e arte da Edição 1) e Dennis Calero (“arte” dos números 2 a 8). Mythos Books, abril de 2015. 264 páginas, cores, capa-dura. R$79,90.

Nota: 0.

Não, não, perdão: -2

 

 

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