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A gente lemos: Hellboy Omnibus Vol. 1 (mas a gente só vamos falar da edição)

E cá estamos na onda dos ônibus!

Recentemente, aportou no Brasil a onda das edições omnibus: como o próprio nome indica, são publicações com vistas a conter “tudo” de determinada coisa (o prefixo omni, em latim, quer dizer tudo. Só lembrar de palavras como onipotência ou onisciência).

Formato de publicação típico do mercado norte-americano, nessa onda atual já temos por aqui, só nestes anos da Graça de 2020/2021: Quarteto Fantástico por John Byrne (dois volumes, concluída); Conan, o bárbaro – Era Marvel (dois volumes até agora); Batman: Preto & Branco (volume único); Capitão América por Jack Kirby (volume único); Homem-Aranha por David Micheline e Todd McFarlane (volume único); Eternos por Jack Kirby (volume único); Homem-Animal por Grant Morrison (volume único). Todos pela Panini Comics.

Do outro lado da rua pero no mucho, a Mythos iniciou seus omnibus justamente pela criação mais famosa de Mike Mignola, ainda em 2019, mas em 2021 também lançou um omnibus do Conan, com histórias que saíram lá fora pela Dark Horse.

(curiosidade: o primeiro título “omnibus” no Brasil, registrado pelo Guia dos Quadrinhos, foi a compilação de tirinhas do Ricardo Tokumoto, o Ryot, chamado Ryotiras – Omnibus, de 2012. Recomendo bastante se você encontrar por aí)

Mas voltando às publicações das marjors, o formato omnibus chegou à nossa República das Bananas cercado de polêmicas: o preço, o tamanho, cagadas editoriais, tudo gerou buchicho. As monstruosas edições do Quarteto, por exemplo (1096 e 1224 páginas cada, custando R$349,90 e R$399,90, respectivamente), deram muito o que falar, já que efetivamente foram as primeiras GRANDES edições que saíram (num sentido ou noutro, você escolhe). Como fã do trabalho de Byrne, aproveitei uma promoção e comprei o primeiro a um preço mais justo. O formato gigante, porém, deixa a leitura desconfortável: a edição é pesada e de manuseio complicado, tornando a experiência um tanto desagradável, já que só se consegue ler à mesa, ou apoiado num porta-bíblia. Ler na cama, largado no sofá, carregar na mochila pra ler no busão? No way, modafócka! É lindo pra galera da estante-show-de-lombada-perfeita, mas para a leitura… nem tanto, quase nada.

Esse não é o formato dos omnibus de Hellboy pela Mythos, pelo contrário: são volumes menores em capa cartão. Antes, a editora vinha investindo nas luxuosas “edições históricas” do personagem, em capa dura – nisso foram 11 edições, entre maio de 2008 e março de 2020, com em média 173 páginas cada. Já os omnibus (são 6 volumes, entre abril de 2019 e abril de 2021), têm em média 400 páginas cada e são em capa cartão.
Claro, esse implemento de páginas tem um preço. A diferença, porém, não é tão grande: enquanto o último volume da série histórica saiu por R$94,90 (março de 2020, 240 páginas), o primeiro omnibus saiu por R$ 99,90 (abril de 2019, 372 páginas) – como se pode ver, ao contrário do que se convencionou dizer, a capa dura parece encarecer o produto.

Eu tinha só umas três ou quatro edições soltas (não sequenciais) da série histórica, compradas aqui e ali. Numa tacada só (a Loja da Mythos tava com 50% de desconto), peguei cinco dos seis omnibus, e num formato que acho bom o bastante.

(ah sim, sobre o número de edições, a Mythos tomou uma decisão que eu achei estranha, mas que parece refletir a publicação original: além dos omnibus da série regular do demonhão, também lançou um compilando as histórias curtas e outro com as histórias do B.P.D.P.)

Também se pode discutir se o formato capa cartão é o melhor para isso que eu pessoalmente chamo de “registro histórico”: aquelas publicações que são “historicamente” relevantes, que aliam qualidade do conteúdo com um valor próprio na cena dos quadrinhos. Hellboy é um desses casos – é intrinsecamente bom, ao mesmo tempo que tem uma importância não desprezível no cenário, de modo que, sendo você um interessado não ocasional nas HQs contemporâneas, é importante acessar, ter e conservar.

(isso faz muito sentido pra mim, não sei se faz pra todo mundo)

A questão, retomo, é pensar se esse formato faz sentido para algo com esse aspecto. Sim, a maior durabilidade de uma edição em capa dura é um valor, mas que, para mim (e neste caso específico), vale menos do que a facilidade de acesso. Se eu tinha apenas 3 ou 4 volumes da edição histórica, isso representa muito menos uma falta de esforço do que uma dificuldade de encontrar essa publicação a valores razoáveis. Por mais “registro histórico” que seja, gibi não é ouro, nem comida: não faz sentido pagar o preço do primeiro ou dar o valor do segundo a eles.

Enfim, acho que essa publicação vale a pena para quem não tem as divertidas histórias do grande personagem do Mignola. Ao preço que paguei então…

Ah, talvez você se queixe de que eu só falei da edição e não do conteúdo. Pô, essas histórias aqui contidas (Sementes da Destruição; Os lobos de Santo Agostinho; O Caixão acorrentado; O Despertar do Demônio; e Quase um Deus; além das duas histórias curtas que Mignola produziu para promover o primeiro arco do personagem e 22 páginas de esboços e comentários) já são bem conhecidas, repetidas vezes publicadas por aqui, daí a minha escolha de priorizar o comentário sobre a edição, que é a novidade.

De qualquer forma, este primeiro volume dos omnibus traz, como não poderia deixar de ser, as primeiras histórias do demonhão. Para quem não conhece, Hellboy nasceu de um rascunho despretensioso do Mignola, quase uma mera piadinha gráfica e que, com o auxílio de John Byrne no roteiro da primeira parte do primeiro arco, cresceu pra se tornar merecidamente a obra prima de Mignola.

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