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Um outro ponto de vista sobre a pirataria

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PQP, esse assunto de novo? Pois é, faz um tempo que o MDM não se engaja em falar sobre pirataria. Mas aí você se pergunta: Que moral tem o MDM para falar de pirataria?” Pouca ou nenhuma, é verdade. É por isso que este post é, de fato, uma opinião de fora sobre o assunto.

Pirataria é um tema que, obviamente, é um assunto que está longe de ser resolvido. E, embora os pontos básicos sejam sempre os mesmos (e os argumentos dos prós e dos contras também), há um aspecto pertinente e que na maior parte das vezes é sumariamente ignorado nesta teatral batalha de Davi e Golias que envolve consumidores e a grande indústria: os autores. Nesse fogo cruzado entre indústria e consumidor, onde a indústria muitas vezes criminaliza seu próprio cliente, e o cliente muitas vezes demoniza a indústria, há é claro certas verdades. Mas onde entra o autor no meio de tudo isso, em especial o autor iniciante e, ou até o independente que consegue publicar numa editora de menor porte? E, mais importante, onde fica o direito do autor de decidir sobre sua própria obra?

Nosso amigo Estevão Ribeiro (Os Passarinhos, Pequenos Heróis, Enquanto ele Estava Morto e o vindouro Da Terra à Lua) dá uma resposta bem interessante que nos faz avaliar aspectos até então não considerados por muita gente. Estevão resolveu disponibilizar seu livro mais recente, A Corrente, gratuitamente, no site Medo B, em forma de “blogssérie”, ou seja, dividido em capítulos.

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Mas acontece que outros sites acabaram disponibilizando o livro inteiro de uma vez, sem a autorização do autor. “E qual o problema disso?”, você pergunta? “Não está ele mesmo disponibilizando sua obra gratuitamente?” Bem, aí é que está, meu amigo. O buraco é mais embaixo, e ninguém melhor do que o próprio autor para dar a letra. Reproduzo aqui então o desabafo que Estevão postou no seu blog pessoal, por que acho bem relevante e pertinente à questão da pirataria, especialmente a pirataria aqui no Brasil:

“Desde quando eu avisei que ia disponibilizar meu livro A Corrente online em forma de “blogssérie” há cerca de um mês, três sites acabaram disponibilizando o livro online. O incrível é que um deles o fez um dia antes da estréia da série no blog MEDO B.
Nos três casos, eu pedi aos blogs que retirassem do ar, por três motivos:

1º – Se alguém vai disponibilizar o meu trabalho online e gratuitamente, que seja eu, nas minha condições, já que sou o autor. E eu decidi que ele vai sair um capítulo por semana (toda a sexta-feira) pelo blog Medo B.

2º – Esse papo de divulgar o autor é interessante, tanto que eu mesmo estou fazendo, mas eu acredito que as pessoas estejam adquirindo o hábito de ter tudo de graça, seja procurando o livro para baixar ou montando blogs para fazer resenhas literárias. Todos vivem como quiser, mas eu também tenho direito de não participar disso.

3º – Hipocrisia. Quem põe o material online não está ajudando a ninguém a não ser a si mesmo, alimentando um ego, seja como um “Robin Hood” digital admirado pelas pessoas do parágrafo anterior ou simplesmente alguém atrás de curtidas no Facebook ou seguidores no Twitter. No último caso, o blog tinha até assinatura premium, onde as pessoas pagavam uma pequena quantia mensal e podia baixar todos os livros.
Uma desculpa “cabível” para isso seria a manutenção do servidor onde estariam todos os livros “ilegais”, mas se a pessoa quer ser altruísta, por que não banca ela mesma, não é?

Uma coisa que precisa ficar clara é que, na maioria das editoras pequenas, o autor não recebe adiantamento de direitos autorais pelas vendas de seus livros. Ou seja: o diagramador recebe, revisor também, o editor, o capista… todos que fazem parte do processo de produção recebem, seja por eles integrarem o quadro de funcionários da empresa ou porque são contratados por isso.

O autor só recebe quando o livro é vendido. E mesmo quando ele recebe um adiantamento pelos direitos autorais, ele só voltará a receber alguma coisa que a a venda dos livros ultrapassar o valor que deram a ele.

Vamos fazer uma conta?

Se Joãozinho recebe R$ 5.000,00 de direitos autorais referente a um livro de R$ 25,00 ao preço de capa e o universo conspirar para que os direitos autorais dele seja de 10% do preço de capa, ele ganhará R$ 2,50 por livro vendido.

Para que ele volte a ganhar algum dinheiro em cima daquele livro no qual trabalhou um tempão, ele precisa vender acima de 2 mil livros.

Antes que você pense que R$ 5.000,00 de adiantamento por um livro é muito, devemos lembrar que em muitos dos casos um livro não atinge esse volume de venda, e em outros casos, só vai atingir depois de um ou dois anos no mercado, ou talvez numa venda para algum programa de governo.

Um autor pode viver de seu trabalho assim?

Gostaria que você pensasse que, quando você baixa um livro, você não está ferrando uma cadeia produtiva. O mercado ganha e perde toda a hora. O autor não. Se ele ganha, ele consegue viver de seu trabalho. Se ele perde, ele vai fazer outra coisa para viver e sua literatura vira um passatempo, um sonho ocasional.

Para quem reclama que livro é caro, eu digo que estou fazendo a minha parte: o meu livro, que estava à venda pela editora Draco a R$ 33,90 + frete está a R$ 25,00 sem frete comigo. Quer conhecer meu trabalho? Acesse os primeiros capítulos de A Corrente no Medo B. Quer ler o livro completo? Compre comigo. O autor agradece.”

Algures

Meu nome é Algures e tenho 41 anos (teria se tivesse vivo). Morri aos 13 anos tentando ouvir o Podcast MDM proibidão. Envie esse post para 20 pessoas para que eu possa descansar em paz. Caso não repasse essa mensagem, vou visitar-lhe hoje à noite e você vai se arrepender. Dia 15 de julho, Rafael riu dessa mensagem e 27 anos depois morreu em um acidente de carro. Não quebre esta corrente a não ser que queira sentir minha presença (atrás de você)

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