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A gente lemos: Coleção Marvel Terror – A Tumba do Drácula (vols 1, 2 e 3)

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Recentemente, a Panini resolveu republicar histórias clássicas dos personagens de terror da Marvel, mais especificamente as histórias que retomaram o gênero na editora durante os anos 70. O primeiro foi a Tumba do Drácula (objeto desta resenha), seguido por Motoqueiro Fantasma e, em breve O Lobisomem. Mas, antes de qualquer coisa, é importante, especialmente para leitores mais jovens, levar em consideração alguns aspectos destas histórias.

Um deles é seu contexto histórico: durante muito tempo, as HQs americanas viveram sob a sombra do Comics Code Authority, que impõs uma série de limitações sobre o que podia e o que não podia ser feito numa história em quadrinhos. Uma delas é que uma HQ não poderia exibir cenas de violência, crimes ou uso de drogas, e não poderia figurar monstros como vampiros, lobisomens ou outras criaturas macabras. Nem preciso dizer que isso praticamente sepultou o terror nos quadrinhos mainstream (apenas editoras como a Warren seguiram publicando terror por conta do formato de suas revistas, que escapava do escopo do Comics Code).

Mas nos anos 70, houve uma revisão do código, que permitiu o uso de monstros clássicos, como Vampiro, Lobisomem, Frankenstein, etc, desde que “no estilo dos classicos vitorianos”. Foi a brecha que a Marvel precisava para trazer de volta os monstros dos quais a editora era bastante familiar. É nessa retomada que surgiram os personagens macabros da Marvel mais reconhecidos hoje, como O Lobisomem, O Motoqueiro Fantasma, o Homem Coisa e Blade.

O problema é que, apesar dessa revisão, o Comics Code ainda continuava com uma série de restrições, então era possível usar estes monstros, mas não dava para ir tão longe no quesito “terror”. O que estes personagens da Marvel se tornaram então foi um amálgama com o gênero dos super-heróis. É neste contexto que A Tumba do Drácula se encaixa.

Revisitando o clássico de Bram Stocker, a Marvel criou uma espécie de sequência passada nos tempos modernos (por “modernos” entenda, é claro, os anos 70), onde Drácula retorna à vida e segue tentando saciar sua sede de sangue. Para combatê-lo, temos a dupla formada por Frank Drake, um descendente do próprio Drácula, e Rachel Van Helsing, descendente do assassino do vampiro. A eles se junta, eventualmente, Dr. Quincy Harker, filho de Johnatan e Mina Harker, e ocasionalmente, personagens como o caçador de vampiros Blade.

Quanto às edições em si, não há muito o que comentar: a Panini preza, nestes volumes, pela lei do menor esforço e só joga as histórias traduzidas na edição, sem se preocupar com textos introdutórios ou em contextualizar o período. Não me incomodo nem um pouco com o tipo de papel que usam nestas compilações, mas material deste tipo pede ao menos alguma nota contextualizando o leitor desavisado. Não precisa contratar um historiador de quadrinhos e escrever um dossiê sobre o período, um pequeno texto já estava bom. Para piorar, há algumas referências a histórias publicadas aqui antigamente por editoras como a Bloch, e a edição possui notas de rodapé que apontam para essas edições – aparentemente sem se preocupar com o fato de que elas não podem mais ser encontradas em bancas; quando muito, com sorte, em sebos ou pela internet. Pelo menos a revisão de texto é bem melhor que de outras compilações da editora, como o da Ms Marvel.

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O primeiro volume, que compila as primeiras 6 edições, tem um ritmo sinuoso, por conta da frequente troca de roteiristas. No entanto, serve como ponto de partida para restabelecer o vilão nos tempos modernos, introduzir seus antagonistas e posicioná-los dentro do universo Marvel da época. No entanto, várias histórias sofrem com problemas de narrativa (em especial a história em que Drácula consegue voltar no tempo e tenta matar Van Helsing – ainda bem que isso é resolvido em uma edição só). Neste volume, os roteiros ficam por conta de Gerry Conway, Archie Goodwin e Gardner Fox, com arte de Gene Colan.

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A partir do segundo volume, que compila as edições 7 a 14 da revista original, a coisa ganha um ritmo mais equilibrado e temos participações de um personagem importante do universo sobrenatural da Marvel, Blade (com um visual classicamente anos 70). O plot se complica, conhecemos Quincy Harker e temos um pouco mais do uso de equipamentos modernos (mais uma vez, por “modernos” entenda dos anos 70) para tentar matar o Drácula, o que parece algo óbvio, mas que havia sido pouquíssimo explorado nas primeiras histórias. A introdução de Blade adiciona uma dinâmica muito mais interessante aos personagens, que deixam de ser os “heróis típicos” para serem os heróis Marvel típicos, ou seja, pessoas com seus problemas de personalidade e seus passados turbulentos. E não é a toa que a qualidade melhora: os roteiros passam a fica sob comando de Marv Wolfman, enquanto que os desenhos permanecem com Gene Colan.

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O terceiro volume, além de compilar as edições 15 a 21 de A tumba de Drácula, também traz a edição 15 de Werewolf by Night, protagonizada pelo Lobisomem Jack Russel (que em breve terá seu próprio volume da coleção Marvel Terror pela Panini). Apesar da presença do Lobisomem e de um tipo de Frankenstein, aqui já não existe mais intenção nenhuma de casar as raízes do personagem no terror e Drácula se transforma totalmente num anti-herói típico, com direito até a supervilão que é um cérebro numa “cuba” que quer roubar os poderes do vampiro (!). A qualidade cai um pouco, mas a partir deste volume é possível ter de forma bem clara a direção que a série seguirá – o que pode ser bom ou ruim, dependendo de quem lê.

A Tumba do Drácula é uma boa pedida para colecionadores e para quem é interessado em histórias antigas – e leva em consideração o contexto em que essas histórias foram criadas. Não é necessário ter lido a obra original de Bram Stocker para seguir a história, mas talvez não seja uma hq muito recomendado para leitores casuais, nem para leitores acostumados apenas com HQs de super-herói, pois o ritmo é diferente, a narrativa é datada e talvez você queira gastar seu dinheiro com coisas mais contemporâneas.

Nota: 7,3

Algures

Meu nome é Algures e tenho 41 anos (teria se tivesse vivo). Morri aos 13 anos tentando ouvir o Podcast MDM proibidão. Envie esse post para 20 pessoas para que eu possa descansar em paz. Caso não repasse essa mensagem, vou visitar-lhe hoje à noite e você vai se arrepender. Dia 15 de julho, Rafael riu dessa mensagem e 27 anos depois morreu em um acidente de carro. Não quebre esta corrente a não ser que queira sentir minha presença (atrás de você)

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