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A Gente Lemos: Beladona

Finalmente, depois de alguns dias de espera chega às minhas mãos um exemplar de “Peladona” Beladona, a HQ de Ana Recalde e Denis Mello que já era muito falada enquando webcomics e que figurou por algumas vezes na lista de melhores HQs do prêmio HQMIX… Agora como obra gráfica, financiada pelo Catarse com o apoio da Petisco e da Editora Avec.

Com orelhas escritas por caras do gabarito de Julio Shimamoto (um dos papas das HQs de terror nacional) e Danilo Beyruth, Beladona impressiona já de cara pelo trabalho gráfica, são 200 páginas contendo todo o material que saiu no site da Petisco (que eu não conhecia) além de dois capítulos exclusivos só pra versão impressa…

O formato um pouco diferenciado (18,5 × 30,0 cm) pode causar estranheza no início, e criar algumas dificuldades na hora de colocar na prateleira, mas no meio dessa infinidade de formas e tamanhos que as editoras nacionais vivem, isso é o de menos… Com o interior todo em papel couché COLORIDO e capa cartonada a edição impressiona pela beleza e qualidade gráfica, não ficando atrás de nada que se tenha visto no mercado de encadernados até agora.

Mas e o conteúdo? Bem, vamos lá!

A história de Ana Recalde narra a trajetória de uma garota, Samantha, que desde criança é assolada por sonhos (pesadelos na verdade) tão estranhos quanto seus próprios pensamentos. Vivendo com sua mãe, sem conhecer seu pai, ela passa pelos perrengues de qualquer criança “esquisitinha” na escola, com bullying das colegas, idas à psicóloga, a perda de seu cãozinho (sim, o cachorrinho morre #BondeDoSpoilerzãoSemFreio) e mais tarde a descoberta dos amores adolescentes…

Tudo recheado com suas passagens pelo mundo dos sonhos, que a coloca frente a frente com criaturas bizarras e situações apavorantes. O início da história (os dois primeiros capítulos) é apresentado como se fossem pequenos contos, mostrando sempre Samantha envolvida em algo que acaba tendo um desfecho algumas páginas adiante… Mas sempre mostrando que há algo maior por trás daquilo…

A partir do 3º capítulo a história se expande, ganha corpo e acaba te fisgando explicitando a trama, com capítulos maiores mostrando Samantha (agora com o codinome Beladona) perambulando pelo mundo onírico dos pesadelos, sendo abordada por terríveis criaturas e percebendo que nada daquilo é acaso, na verdade há uma grande razão pra tudo o que acontece com a garota.

A história é boa, apesar de que leitores mais velhacos que tem na sua carga de leitura histórias do Sandman, Máscara Noturna e obras do Clive Barker possam identificar vários pontos similares na trama, ela é apresentada de um jeito muito bom, tem um ritmo que vai crescendo e envolvendo o leitor, com uma tensão escondida ali no meio que vai se revelando aos poucos, até transbordar na reta final da história e nos apresentar alguns atos da “heroína” que não são nada heróicos (puta psicopatinha essa Samantha… mas também, com o pai que ela tem!!)!

A Arte de Denis Mello casa muito bem com a história, um estilo caricato (porém sério e “pesado”) quando a história se passa no “mundo real”, ela ganha pinceladas mais furiosas quando migra pro mundo dos pesadelos, tendo duas paletas e cores bem distintas pros dois mundos também, com as cores mais claras (porém “tristes”) no mundo real e mais sombrias e carregadas no mundo dos pesadelos.

Há alguns problemas que envolvem a narrativa, pois os painéis pintados acabam ficando um pouco confusos em alguns momentos da história, principalmente nas sequências de ação (como na luta com os anões).

A edição ainda tem vários extras no final, que mostram um pouco pro leitor como se dá o processo de criação da arte, criação de personagens, artes conceituais, arte-final, colorização e roteiro da revista, além de uma galeria com diversos desenhistas convidados desenhando a personagem principal da HQ.

Ontem mesmo no whatsapp do MdM (do qual o Catena é constantemente suspenso) tivemos uma salutar discussão acerca de que, com o advento dos quadrinhos independentes, como poderíamos mensurar um padrão de análise pras HQs já que esses lançamentos em grande parte das vezes tem recursos muito mais modestos e também um know-how muito menor comparado ao trabalho lançado pelas grandes editoras… Mas lhes digo uma coisa, o trabalho gráfico de Beladona é muito bom, pra falar a verdade é melhor do que muito encadernado de editora badalada por aí além de trazer uma história muito legal…

No fim das contas é gratificante ver o quadrinho nacional tratado com esse nível de respeito e acuidade profissional.

Nota: 8,3

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