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A gente vimos: Os Vingadores – A Era de Ultron, por Algures

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No meio do caminho da sequência de uma franquia de sucesso, tem sempre uma pedra, chamada expectativa. E, se a expectativa para o primeiro Vingadores era baixa (talvez fosse um pouco alta apenas entre os fãs de quadrinhos mesmo), o mesmo não pode se dizer de sua sequência, A Era de Ultron.

Num mundo ideal, os espectadores julgariam cada filme por seus próprios méritos, e não em comparação com suas encarnações anteriores/posteriores ou com outros filmes. Por exemplo, vi muita gente comparando O Homem de Aço com O Cavaleiro das Trevas, o que é uma comparação que não faz sentido – uma comparação mais justa, se o caso é comparar, seria com Batman Begins. Mas a gente sabe como espectadores são mais levados pela emoção do que pela razão – e é justamente com isso que os produtores contam quando o assunto é a consolidação de franquias cinematográficas. E, obviamente, me incluo nesse grupo, então a comparação se torna inevitável.

No caso de A Era de Ultron, a sequência tem não só uma, mas três pedras no caminho: superar, ou pelo menos bater as expectativas, do primeiro filme da sua própria franquia, e também ser tão ou mais satisfatório que os dois últimos filmes do MCU – Capitão América: O Soldado Invernal e Os Guardiões da Galáxia.

O resultado é um filme com muito dos mesmos acertos do primeiro, e alguns dos erros, mas sem dúvida uma evolução natural da história dos personagens e da saga da equipe.

Vou dividir meus comentários em “sem spoilers” e “com spoilers”, aí você escolhe qual está disposto a ler. Se for ler os comentários com spoilers, faça por sua conta e risco.

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Comentários SEM spoilers

Uma das coisas que mais me impressionou no filme, considerando a porrada de subplots que aparentemente se emaranhavam na história é que o filme segue de forma bem orgânica, com uma coisa levando à outra, sem muita forçada de barra.

Se o primeiro Vingadores pode ser comparado a uma edição one-shot dos quadrinhos (uma história única e direta), A Era de ultron se assemelha mais a um arco de histórias, com uma grande sequência de ação logo no início para mostrar o que a equipe tem feito, e desse momento é que se ramificam todos os eventos do filme, dos gêmeos a Ultron, passando pelo Visão (que ficou simplesmente fantástico), cujas sequências de ação meio que dividem os “capítulos” dentro do filme.

Para os fãs de quadrinhos, o que Joss Whedon conseguiu fazer de mais interessante foi criar a versão MCU dos personagens, usando a cronologia dessa realidade, mas incorporando a essência, vamos dizer assim, do que esses personagens e storylines significam nas HQs. Então você vai ver um Ultron que não é o mesmo Ultron dos quadrinhos, mas ao mesmo tempo soa familiar o bastante, e o mesmo pode ser dito do Visão e dos gêmeos (apesar dos poderes da Feiticeira Escarlate diferirem bastante da sua contraparte das HQs).

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Os veteranos do elenco parecem estar absurdamente confortáveis nos seus papéis, o que de cara contribuiu para a identificação emocional do espectador; para melhorar, temos a chance de ver um pouco mais das pessoas por trás dos heróis, e inclusive algumas surpresas quanto ao que alguns escondem dos colegas de trabalho.

Quanto aos novatos, há certa variação: Os gêmeos se esforçam e não fazem feio perto do elenco principal, mas o sotaque “sokoviano” deles varia durante o filme e às vezes deixa um pouco a desejar. Os poderes, no entanto, são bem distintos dos outros e melhoram a dinâmica das cenas de ação; Paul Bettany mata a pau como Visão, e parece tão confortável no papel que é como se sempre tivesse sido o personagem.

A cereja do bolo é, é claro, Ultron. Ao pensar “fora da caixa”, Whedon cria uma inteligência artificial que não soa nem um pouco com qualquer outra do tipo que já vimos em outros filmes, o que pode gerar estranheza para quem espera ver o clássico robô com diretriz lógica e objetiva. Ultron é inteligente, instável, carente de atenção e com delírios de grandeza. Lembra um dos membros dos Vingadores? Pois é.

O clímax do filme cria ecos com a SHIELD que quero ver o que farão para amarrar Agents of SHIELD com aquilo que aconteceu ali, e como esses eventos vão se desenrolar na série. Obviamente, tem algumas soluções deus ex-machina, mas se você ainda não se acostumou com isso em virtualmente todos os filmes de super-herói (da Marvel ou não), já está na hora de parar de ver filmes de super-herói.

O filme é mais sombrio que o primeiro? Não. Mais sério? Não. Mais profundo? Não. Apenas mantém o padrão estabelecido no primeiro, de balancear diálogos divertidos, humor fora de hora e uma boa dose de drama – esse aspecto, sim, mais afinado que no filme anterior, mas ainda abaixo de Capitão América: O Soldado Invernal.

Se você gostou do primeiro Vingadores, pode ir assistir sem medo. Se não gostou, então é bem provável que se decepcione com esse também. Não é um filme para deixar você refletindo sobre a vida e moralidade após sair da sessão, mesmo que adicione alguns comentários filosóficos bem curiosos que acabam passando batido no meio da porradaria toda.

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Comentários COM spoilers

Tem várias coisas que eu gostei e várias que eu não gostei que só dá para falar nesta parte com spoilers.

Entre as coisas que eu curti foi a descoberta de que Gavião Arqueiro é um pai de família. Uma surpresa, já que todo mundo imaginava que ele e a Viúva Negra tinham algo. Mas, olhando em retrospecto, nós, os espectadores, é que lemos demais nas entrelinhas.

Ainda falando do Gavião Arqueiro, ele tem um pouco mais a fazer em A Era de Ultron, mas até o filme reconhece o quão bizarro é ter um cara que conta só com um arco e flecha lutando contra centenas de robôs. Mesmo assim eu curto o personagem, então felizmente, não foi ele que morreu, o que me deixou bem feliz.

Mas, se eu disse que ele não é quem morre, quer dizer que alguém morre? Sim, e na boa, totalmente desnecessário. Existe uma ideia, meio forçada na minha opinião, que você precisa matar alguém para mostrar as consequências e os riscos como se fossem reais, e eu acho que tudo isso é balela. Existe uma porrada de outras maneiras de mostrar as consequências de forma contundente sem precisar matar ninguém e ainda criar o conflito interno necessário (você pode aleijar, estremecer as relações afetivas, fazer a pessoa desaparecer, fazer ela ficar mentalmente perturbada, fazer ela cruzar uma linha moral particular… enfim, são inúmeras possibilidades).

De qualquer maneira, o sacrificado da vez é o Mercúrio, o que até faz sentido, do ponto de vista estratégico, já que a) A FOX já tá usando o personagem nos X-men e, apesar de serem bem diferentes, vai ser difícil os estúdios não acabarem copiando sem querer um ao outro eventualmente, já que as referências são as mesmas; e b) Na boa, o Mercúrio dos quadrinhos (diferente da versão de Dias de Um Futuro Esquecido) não é o Flash. Ou seja, a velocidade dele não é assim tão impressionante para ser uma grande vantagem, considerando o nível de poder dos outros Vingadores. Então, se é pra sacrificar alguém, que seja ele. Sem contar que a morte dele dá gancho para a instabilidade emocional da Feiticeira Escarlate, que é algo que certamente será explorado no futuro.

O Visão está muito foda, mas fiquei meio bolado que ele é criado com a jóia da mente (que é confirmada que estava no cetro do Loki). Eu vou ter que ver o filme mais vezes para ter certeza se explicam isso melhor, mas fico me perguntando o que acontecerá ao Visão quando o Thanos capturar todas as jóias do Infinito.

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Temos mais da origem da Viúva Negra e, considerando que a Julie Delpy interpreta a “professora” da Natasha, certamente essa storyline será retomada no futuro. A origem do Ultron é rápida como é hoje o acesso a informação, mas ainda é bem fácil entender porque ele fica totalmente pirado; e o Visão se encaixa muito bem como o corpo que seria o “definitivo” do Ultron, algo muito melhor que robô e que humano ao mesmo tempo, mas que acaba sendo o corpo de uma consciência da qual JARVIS faz parte – mas ao mesmo tempo não é, exatamente, o JARVIS. Confuso? Nem tanto, na real, faz mais sentido dentro do contexto do filme.

Tem tanta coisa acontecendo e tanto personagem aparecendo que fica difícil falar de tudo. Andy Serkis prova que é um ator fantástico com sua versão do Ulisses Klaue (grafado assim no filme, ao invés de “Klaw”); Wakanda aparece, mas nenhum sinal do Pantera Negra; Máquina de Combate aparece e tem cenas de ação; Falcão aparece em duas cenas bem curtas, mas que servem bem à história; eles reconhecem as pontas soltas de outros filmes (como O Soldado Invernal) e até dão explicações para a falta de Pepper Pots e Jane Foster. Mas o filme caga solenemente para o final de Homem de Ferro 3, e começa já com Tony de volta às aventuras com armadura (e com uma legião de robôs armaduras para ajudar) sem nenhuma explicação.

Sobre alguns dos boatos que talvez vocês estejam se perguntando se são reais: O filme termina com a equipe dividida, mas não “brigada”; cada personagem tem seus próprios problemas para cuidar, e Capitão e Viúva ficam para cuidar da “casa”, com uma nova equipe de Vingadores (até usam o termo “Novos Vingadores” no filme), que conta com Máquina de Combate, Falcão, Visão e Feiticeira Escarlate. Hulk fica à deriva no céu dentro de uma nave, mas não vai para o espaço – seu paradeiro fica incerto – e, aparentemente, Ultron é destruído (embora eu tenho certeza que ele pode pintar por aí eventualmente). Thor volta para Asgard porque começa a se ligar que tem algo maior rolando relacionado às Jóias do Infinito e Tony Stark resolve dar um tempo na aventura (o que é, basicamente, a mesma coisa que parecia que ele ia fazer depois de Homem de Ferro 3).

O filme faz gancho com Civil War? Não, não diretamente pelo menos. Mas certamente as ações dos Vingadores durante o filme (especialmente o descontrole do Hulk em certo momento) podem ser usadas como argumento pró-registro no futuro.

A cena pós-créditos (ou meio dos créditos, porque é depois dos créditos principais) é com o Thanos pegando a Manopla do Infinito (sem as gemas) e dizendo algo como “Vou ter que eu ir resolver essa merda, então”. Honestamente, achei bem bunda e, se não tivesse no filme, não faria falta nenhuma.

Ainda teria várias outras coisas que eu poderia comentar aqui, mas espero assistir o filme mais vezes porque acontece muita coisa durante o filme, e certamente algumas coisas passaram batido. De qualquer maneira, gostei do filme o suficiente para querer ver outras vezes, então pra mim o saldo é mais do que positivo.

 

Nota: 9,253

Algures

Meu nome é Algures e tenho 41 anos (teria se tivesse vivo). Morri aos 13 anos tentando ouvir o Podcast MDM proibidão. Envie esse post para 20 pessoas para que eu possa descansar em paz. Caso não repasse essa mensagem, vou visitar-lhe hoje à noite e você vai se arrepender. Dia 15 de julho, Rafael riu dessa mensagem e 27 anos depois morreu em um acidente de carro. Não quebre esta corrente a não ser que queira sentir minha presença (atrás de você)

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