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A gente lemos: A História do Universo Marvel (veja bem, do “universo”. Não fala nada de clássicos)

De tempos em tempos, as majors norte-americanas, com suas décadas e décadas de publicações ininterruptas e supostamente numa mesma cronologia, precisam parar a (tentar) “arrumar a casa”.
Passados 34 anos, talvez a tentativa ainda mais memorável (e talvez mais corajosa) segue sendo a Crise das Infinitas Terras, ou “Crise original”, da DC Comics em 1986. Comandada por Marv Wolfman e George Pérez, a história reformulou, apagou e fundiu personagens e universos inteiros, deixando tudo bem arrumadinho para o que viria depois.


Uma das coisas que veio logo depois foi “A História do Universo DC”, um manualzão em duas partes lançado no mesmo ano (no Brasil só chegou em 2009). Produzido também por Wolfman/Pérez, “A História do Universo DC” contava, de maneira cronológica, os eventos que valiam para a história do novo UDC pós-Crise.
Outras iniciativas da Editora das Lendas tiveram objetivos parecidos – e talvez a mais bem sucedida tenha sido “DC: A Nova Fronteira” de Darwyn Cooke (2004), minissérie em 6 edições que, diferente do manual que foi “A História do UDC”, trazia uma narrativa que contemplava (e conectava) cronologicamente muito do que a editora já havia produzido.

Do outro lado do multiverso, na Casa das Ideias, iniciativas assim não eram muito recorrentes, até porque o Universo Marvel sempre foi vendido como algo mais coeso e menos múltiplo (ok, não estou falando com vocês, X-men). Destaco a publicação da minissérie “Marvels”, de Kurt Busiek e Alex Ross em 1994 (aqui em 1995, com aquela ainda não superada edição das capas de acetato). Em “Marvels”, a percepção de um homem comum, o fotógrafo Phil Sheldon, nos apresenta em sequência cronológica, o surgimento das “maravilhas” do UM (digo, Universo Marvel).

Se “DC: a nova fronteira” está para “Marvels” (ambas são narrativas cronológicas), “A História do Universo Marvel” (HUM), como o próprio nome indica, está para “A História do Universo DC”. Ok, em HUM há uma narrativa – um fiapinho, mas há e tem sua beleza – mas seu objetivo é ordenar cronologicamente tudo o que Timely, Atlas e Marvel publicaram, inserindo tudo num só universo e linha temporal. A narrativa é simples: o universo está acabando. Às portas do fim de tudo, duas figuras conversam – Galactus (Galan de Taa), o devorador de mundos, e Franklin Richards, o criador de mundos.

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Mas todo fim contém um recomeço, e é responsabilidade de Richards estar lá quando isso ocorrer. Mas, angustiado diante da imensidão de tudo, o mutante mais poderoso do universo pede ao Devorador de Mundos que lhe conte uma história. Não uma: A História do Universo Marvel.
É assim que Galactus, que esteve presente desde antes do início, narra tudo aquilo que viu: da extinção de um sistema solar inteiro (e consequentemente de uma raça, os D’bari), à sobrevivência de um órfão na floresta. Tudo.

Cortando os entretantos, HUM é um bom quadrinho. Sendo um roteirista MUITO habilidoso, Mark Waid consegue encadear os eventos de modo que eles não ficam nem muito confusos (um pouquinho só), nem muito enfadonhos (um pouquinho só). A conversa entre Galactus e Franklin abre cada uma das 6 edições originais e a arte de Javier Rodríguez permite que se perceba claramente que há uma passagem do tempo naquela conversa. A última parte da narrativa de Galactus e do diálogo das duas entidades é muito bonita.


Inclusive, é preciso falar da arte do Rodríguez: que beleza! Dei uma buscada aqui e todos os gibis que me lembro de ter com ele nos créditos é como colorista, então é uma grata surpresa poder vê-lo desenhando. Há composições de páginas muito bonitas (destaquei aqui aquela que começa com a morte da Elektra, passa pelo surgimento da Capitã Marvel [Monica Rambeau] e pela assunção da armadura do Homem de Ferro por Jim Rhodes, terminando em Bill Raio Beta como um deus do trovão. Toda página é conectada por um só corpo – Elektra/Monica/Rhodes/Sif), e que ajudam muito para que a publicação não fique cansativa como poderia ficar.
Ainda na arte e pelo lado oposto, as capas oficiais de Steve McNiven são de uma pobreza medonha. McNiven (de Guerra Civil, principalmente) parece ter involuído (ok, ele já ia mal no esquecível Nêmesis), de modo que é difícil reconhecer que as capas são dele, em comparação ao que dele temos na memória. As capas alternativas do próprio Rodríguez eram bem mais interessantes.


Além do gibi em si, a edição traz um pacote bem extenso de anotações sobre as edições (elas ocupam metade da publicação). Elas servem para que Waid expanda cada um dos eventos que foram mais ou menos abordados nas edições.
Porém, essas anotações dão espaço para o tradicional amadorismo da Panini Brasil (que já estamos, infelizmente, acostumados). Há trechos cuja redação está confusa, obviamente não revisada (a tradutora das notas é a Dandara Palankof, cuja qualidade do trabalho é conhecida. Mas fica claro que não houve revisão editorial do seu trabalho).

Tem data errada, tem edição não indicada e, duas coisas particularmente medonhas: 1) constantemente as notas fazem referência à páginas da história (“tal personagem é retratado à página X”), mas O ÁLBUM NÃO TEM AS PÁGINAS NUMERADAS!; e 2) As notas indicam quando determinado evento foi originalmente publicado (revista X, ano Y). Se o Panini Way of Life fosse um trabalho minimamente sério, haveria indicações de onde aquelas histórias foram publicadas no Brasil (muitas delas já pela própria Panini).
Enfim, HUM é uma publicação originalmente muito boa. O que ela tem de ruim é exclusivamente restrito ao trabalho relapso da edição brasileira.

Ah, e o preço. Eu comprei numa promoção lá na Bezostore, por quase metade do preço. R$72,00, o preço de capa, não tive coragem de pagar não. Não sei se vale o preço – quer dizer, para além do gibi, é um bom material de referência sobre a cronologia Marvel, mas…

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